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CAFÉ NA RUA:
A VIDA DOS VENDEDORES AMBULANTES

Essa reportagem relata o cotidiano e as histórias dos vendedores de cafés nas ruas de São Paulo, os desafios que enfrentam e a resistência do trabalho informal.

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ROLE  PARA 

CONTINUAR

Âncora 1

PUBLICADO EM

14 DE JUNHO DE 

2024

 


 

Ambulantes!”, alguém diz. É uma das noites mais quentes do ano, estamos numa mesa de bar e prometemos não sair dali até definir um tema para nossa reportagem. “Ambulantes é muito amplo”, outra pessoa rebate. Nunca parece ter fim. Queremos falar sobre algo relacionado à cidade de São Paulo, algo que não seja tão clichê nem tão inacessível. 

 

Mas a cidade de São Paulo é muito grande, e muitas coisas se relacionam com ela. Além disso, todos os temas sugeridos parecem amplos ou específicos demais. Logo, fica claro que o que precisamos é de sensibilidade para enxergar o que, no meio do cotidiano, acaba ficando invisível.

 

“E se falarmos sobre os vendedores de café ambulantes?”, alguém finalmente sugere. E aí, quando a última palavra dessa frase foi dita, soubemos que era hora de voltar para casa. 

TEXTO POR
CAMILLA MENEZES
 

 


 

AMBULANTES

Âncora 2

Na minha primeira busca por fontes, decidi ir à Avenida Paulista, ciente de que encontraria trabalhadores atuando naquela quarta-feira. Saí de casa às 7h da manhã, para encontrar minha colega na estação Consolação do metrô. Nós moramos longe, fora da cidade de São Paulo, então sabia que a viagem levaria pelo menos uma hora e meia. Estava preparada para enfrentar a demora e o metrô cheio, porque decidi sair no horário de pico. No entanto, não estava preparada para as inúmeras recusas dos ambulantes.

 

Quando chegamos lá, muitos já haviam ido embora, enquanto outros aguardavam a abordagem da polícia para enfim retirarem-se. Descobrimos que é raro conseguirem permanecer na avenida após as 8h. Após alguns minutos alternando entre comprar copos de café e tentar puxar conversa com os vendedores, percebemos que muitos deles têm medo de falar com jornalistas. Grande parte pede para não ser gravada ou identificada, temendo consequências do governo e da polícia em razão do trabalho que têm. 

 

Mas para nossa surpresa, encontramos o Julio. Quando o abordamos, ele já estava guardando suas cadeiras e se preparando para encerrar o expediente. Por algum motivo, decidiu que toparia conversar conosco. Há cinco anos, ele tem um espaço na esquina ao lado do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e acumula 24 anos de carreira nessa profissão. Ele nos explicou que trabalha de segunda a sábado e só não vende aos domingos. Mesmo assim, ele afirma: 'Domingo eu não descanso; preciso fazer mercadoria à tarde'

 

Nessa profissão, que foge aos registros formais, o trabalho é árduo e a carga horária ainda mais desafiadora. Os ambulantes precisam preparar, embalar e transportar os produtos até o local de venda durante a madrugada, principalmente por meio do transporte público. Edinho, de 46 anos, diz que acorda às 2 horas da manhã para finalizar o que começou no período da tarde do dia anterior, se divide entre fazer o café, colocar tudo nos carrinhos e se arrumar para mais um dia de trabalho. Ele e sua mulher Maria José, ambos vendedores ambulantes de café da manhã, se deslocam de Itaquaquecetuba até a Consolação, região nobre de São Paulo, de ônibus, transportando todos os seus artigos de trabalho, como bolos, garrafas de café, mesa, cadeiras, entre outros.


 

 

 

 

 

Edinho personifica os milhares de trabalhadores que saem às ruas todos os dias. Eles variam em idade, gênero e origem, mas todos têm em comum a busca por sustento. Alguns são imigrantes, outros são locais que encontraram nessa atividade uma forma de sobreviver em meio às adversidades.

O professor e sociólogo Admar Mendes, enfatiza que essa modalidade de trabalho coloca os riscos integralmente sobre os ombros dos trabalhadores. A incerteza e a dificuldade de planejar suas vidas são constantes.

O trabalho informal no estado de São Paulo, assim como em todo o Brasil, é uma questão complexa e multifacetada que tem profundas implicações sociais e econômicas.

 

O termo "setor informal" foi utilizado pela primeira vez pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1972, o que marcou o reconhecimento oficial desse fenômeno. Os relatórios desta convenção destacam que o principal gerador dessa forma de trabalho não era o desemprego em si, mas sim a existência de um grande número de "trabalhadores pobres" que produziam bens e serviços sem garantias trabalhistas.

 

São Paulo, sendo o estado mais populoso e economicamente desenvolvido do Brasil, apresenta um panorama significativo de informalidade. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que, no terceiro trimestre de 2023, aproximadamente 31,3% dos 24,2 milhões de trabalhadores estavam em condições informais de trabalho. Isso significa que cerca de 7,6 milhões de pessoas em São Paulo operam fora do mercado formal, sem os benefícios de um contrato de trabalho oficial, como segurança social, benefícios previdenciários e direitos trabalhistas.

 

 

 

 

 

O comércio ambulante está profundamente enraizado na história das cidades. Desde os primórdios, vender mercadorias nas ruas e praças não apenas sustentava a vida urbana, mas também justificava a própria existência desses centros. 

 

E mesmo após um século de modernização urbana, ele permanece como um elemento central das economias populares globais. No entanto, atualmente, este espaço é cenário da luta pelo uso do espaço público e as formas permitidas ou proibidas de trabalhar. Em São Paulo, essa batalha está em curso há décadas, refletindo os desafios universais enfrentados pelos trabalhadores ambulantes. 

Mas, falaremos com mais detalhes sobre a relação da cidade de São Paulo com o trabalho informal no último capítulo. Antes disso, vamos embarcar na história e na rotina de uma vendedora de café que mudou a nossa percepção sobre o trabalho informal.

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Âncora 3

TEXTO POR

ALESSANDRA SANTOS

 


 

MARISA

Quando saí numa sexta-feira de manhã à procura de personagens para essa reportagem, a direção estava muito bem definida: bairros nobres de São Paulo. O foco era fazer um paralelo entre vendedores ambulantes periféricos que se deslocavam diariamente para bairros nobres de São Paulo para vender café. 

 

Foi por isso que, quando vi a barraca da Marisa numa esquina de Taboão da Serra, cidade periférica na Zona Oeste de São Paulo, eu hesitei em parar. Quer dizer, ainda que ela fosse uma boa personagem, não atenderia ao único requisito que a equipe pré definiu, então a entrevista com ela muito provavelmente não seria utilizada. 

 

Olhando agora, chega até ser engraçado pensar que eu quase não parei na barraca da Marisa. Quase não a conheci, quase não a convidei para uma conversa. Por muito pouco, nossos caminhos não se cruzaram. A boa notícia é que, por intuição ou um faro jornalístico, eu parei, eu a ouvi, eu a conheci. E, por causa disso, esta reportagem tomou outro rumo. Um rumo bem melhor.

 

 

“Esqueci de vocês!”, foi a primeira coisa que eu ouvi de Marisa, ainda do outro lado do portão, quando fui com uma colega até a casa dela pela primeira vez. Eu estava apreensiva porque, quase no horário da conversa, percebi que tinha cometido um erro de iniciante: me esqueci de confirmar a entrevista. As chances de Marisa ter esquecido que marcou um papo com a gente eram bem altas. E foi exatamente o que aconteceu. 

 

Com receio de incomodá-la, estava prestes a dizer que voltaríamos outro dia, até que ela abriu o portão e nos convidou para entrar, com um sorriso receptivo a ponto de eu nem me questionar se ela estava nos recebendo só por educação. 

 

Marisa Luana Alves Machado nasceu em 27 de janeiro de 1980, na região de Santo Amaro, São Paulo. Ela tem 44 anos, dois filhos e uma jornada dupla de trabalho: vende café da manhã na rua todos os dias e é cozinheira particular na casa de uma família árabe.
 

Ela nos recebeu, desta primeira vez, vestindo um conjunto fitness de poliamida e um tênis de corrida, o que fazia todo sentido, pois havia acabado de chegar do seu segundo trabalho, do qual faz o trajeto de bicicleta todos os dias. “Uma vez, quando trabalhava no Jardins, precisei usar meu dinheiro da condução pra outra coisa e fiquei sem dinheiro pra voltar. Tive que voltar andando de lá até em casa [Taboão da Serra]. Foi aí que eu pensei: quer saber? Vou comprar uma bicicleta!”, conta ela sobre a decisão de começar a ir e voltar do trabalho pedalando. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em menos de cinco minutos na enorme garagem da casa de Marisa - que mais tarde eu viria a descobrir que ela também aluga como salão de festas - já sabíamos ao menos dez coisas diferentes sobre ela, e todas eram interessantes. Inquieta, ela anda de um lado para o outro arrumando as coisas pela garagem, emenda vários assuntos de uma só vez e nos oferece copos d’água repetidamente. 

 

Antes de enfim começarmos a entrevista, ela pede para esperarmos um minuto, não quer aparecer na câmera sem passar batom. Assim que ela desaparece nas escadas escuras de sua casa, olho para minha colega para ter certeza de que estamos igualmente inebriadas pela personalidade daquela mulher. E é claro que estamos. 

 

A conversa com ela se encaminha quase naturalmente. Eu tenho quinze perguntas anotadas no meu bloquinho de notas e ela me responde todas nas duas primeiras. Por um momento, até esqueço que estou a entrevistando, me sinto numa mesa de bar conversando com uma velha amiga.

 

No fim da conversa, sinto que tenho todas as informações para construir um texto sobre ela, mas não consigo parar de saber detalhes. Então, antes de sair, proponho, como quem não quer nada “Eí, Marisa, você acha que faz sentido a gente vir aqui na sua casa qualquer dia acompanhar seu dia de trabalho?”.

 

Ela, surpreendente, aceita. 

 

 

São 03h30 da madrugada de um domingo para segunda. A cidade ainda está praticamente toda adormecida. As pessoas aproveitam as últimas horas de sono antes de uma nova semana começar. Mas as luzes da casa de Marisa já estão acesas, e nós, eu e outros dois colegas, estamos no seu portão outra vez. Vamos acompanhar a sua manhã de trabalho.

 

Como da primeira vez, Marisa nos recebe com muito carinho. Ao entrarmos, ela pede para que a gente não repare na bagunça e volta para seus afazeres cotidianos. 

 

Logo de cara, é impossível não notar em Marisa uma fascinante habilidade de fazer várias atividades ao mesmo tempo. Na cozinha, ela passa café, esquenta leite, assa pães de queijo e organiza seus utensílios em sacolas reutilizáveis quase simultaneamente. Enquanto isso, ainda encontra concentração para embarcar conosco numa conversa profunda sobre sua percepção de mundo.

 

 

 

A característica mais evidente em Marisa, a princípio, é a sua crença inabalável na força do estudo. “A gente precisa estudar, o estudo é tudo na vida da gente”, Marisa repete várias vezes durante nossa conversa. Hoje, ela acredita fielmente que estudar é capaz de mudar vidas. Mas nem sempre foi assim. 

 

Aos 15 anos, Marisa teve sua juventude interrompida por uma gravidez. Diante dessas circunstâncias, o estudo teve que ficar em segundo plano; a prioridade era o trabalho. O pai da criança era um namorado da época, que além de ter 12 anos a mais que Marisa, era “um homem de vícios”, como ela mesmo descreve. 

 

Apesar da jovem Marisa acreditar que a relação era séria, acabou não indo para frente. No meio de um feriado de carnaval ensolarado, o pai de seu filho e até então namorado terminou o relacionamento depois de conhecer sua “alma gêmea” no centro espírita, uma mulher com a qual ‘seu santo tinha batido’. Marisa confessa que passou um bom tempo num desentendimento ferrenho com o feriado de carnaval e com a própria religião. 

 

Enquanto nos contava essa história, ela continua sua organização quase performática. Nessa altura, todos os alimentos já estavam prontos, e ela começava a distribuí-los nas sacolas reutilizáveis.

Antes de sair, um ritual: ela deixa o café da manhã preparado para seu filho mais novo, um adolescente de 15 anos, o acorda para ir à escola, tira a touca de cetim, coloca uma blusa de manga comprida, veste um avental, pendura uma pochete na cintura e passa batom na frente do espelho.

 

 

 

Às 4h30 da manhã, enfim, estamos saindo rumo ao ponto de venda de Marisa. Temos, no total, três sacolas pesadas, uma mesa, uma cadeira, uma barraca e um carrinho vitrinado que carrega uma série de outras bolsas dentro. Excepcionalmente naquela manhã, nós a ajudamos a carregar todas as coisas para o ponto, mas não pude deixar de pensar que esse é um peso que ela carrega diariamente sozinha. 

 

Faço duas viagens se necessário”, responde Marisa ao ser questionada sobre o peso e a quantidade das coisas, “deixo lá e venho buscar o restante, ninguém mexe, não”. Seu ponto de venda não é muito distante da sua casa, ainda assim, essa não me parece uma atividade tão confortável de ser feita todos os dias às 04h da manhã. 

 

Mas a Marisa parece imbatível. 

 

Ela percebeu muito cedo que teria que batalhar para conquistar o que queria e que ninguém poderia enfrentar essa batalha em seu lugar. Talvez isso explique a sua fé inabalável na própria força de vontade. “Se você desanimar, ninguém vai te ajudar. É você mesmo com você. Então, a gente não pode desanimar, a gente tem que sempre ter força, né? Acreditar em algo, isso é importante na vida da gente.” 

 

Marisa largou os estudos para se dedicar a trabalhos pontuais, mais especificamente como empregada doméstica. Mas, naquela época, essa área ainda não era regularizada, e Marisa descobriu os pontos negativos dessa falta de regularização da pior maneira possível: na prática.

 

“Era uma coisa muito “explorativa”, define Marisa. E ela tem razão. A lei que assegura direitos aos trabalhadores da categoria de empregado doméstico só foi aprovada em junho de 2015, no governo da presidenta Dilma Rousseff. Marisa, em determinado momento, chega a dizer que o serviço de empregada doméstica naquela época se parecia com escravidão. “Quando mudou, muita coisa já tinha acontecido, muita gente já tinha sofrido, porque a gente não tinha direito, porque era um serviço que quem fazia era quase escravo”, comenta ela. 

 

Mesmo com a lei assegurando os direitos dos empregados domésticos desde 2017, 101 trabalhadores domésticos foram resgatados em condições análogas à escravidão no Brasil, de acordo com um levantamento feito pelo Brasil de Fato utilizando dados do MTE. O buraco se mostra bem mais profundo. 

 

Ainda assim, Marisa fazia parte do grupo de pessoas que não tinham o privilégio de lutar, exigir ou esperar pelos seus direitos trabalhistas. E isso quer dizer que ela enfrentou muitas situações precárias nos seus primeiros anos de trabalho. 

 

Uma de suas patroas, por exemplo, descontava do seu salário todas as ligações que ela fazia para Uberlândia, cidade natal de sua mãe. Essa mesma patroa exigia que ela dormisse no trabalho e a impedia de estudar. “Ela falava pra mim: se você quiser estudar, essa não é a profissão”, conta Marisa. 

 

Além disso, durante muitos anos, ela também precisou engolir a seco o grande acúmulo de função e todas as responsabilidades acerca de cada uma das demandas.

 

“Na época, a gente fazia tudo, né? Fazia comida, cuidava de criança, limpava a casa (...) e se o filho do patrão se machucasse, a culpa nunca ia ser do patrão, ia ser sua, que tinha que ficar de olho na criança e na panela.” 

 

Marisa continuou nessa luta até receber um chacoalhão da vida, ou melhor, de uma grande amiga. “Filha, você tem que acordar pra vida, seu filho precisa de você, seu pai precisa de você, você não é rica. Se você continuar nessa, não vai conseguir nada na vida”, foi o conselho que a Marisa recebeu de sua amiga e que, segundo ela, foi o que a fez mudar. Depois disso, ela começou o supletivo e terminou os estudos. 

 

A migração da função de empregada doméstica para cozinheira, por sua vez, só aconteceu depois que ela começou a trabalhar numa agência. Lá, pela primeira vez, alguém perguntou o que Marisa gostava de fazer. “Olha, eu acho que eu tenho dom pra cozinha”, foi o que ela respondeu. E estava certa. 

 

A agência a ouviu, e Marisa começou a se dedicar apenas ao ofício de cozinheira, trabalhando em casas de família e eventos. Mais tarde, formou-se cozinheira profissional pelo Instituto Gastronômico das Américas, além de fazer vários outros cursos na área. Marisa não descobriu só o seu dom, descobriu sua grande paixão.

 

A ideia de ter uma barraca de café da manhã surgiu na pandemia, quando os trabalhos começaram a diminuir por causa do isolamento social. Sem querer se desvincular da cozinha, ela pensou que vender café da manhã poderia ser uma boa opção. Nunca mais parou. 

 


 

“Esse cantinho parece que foi feito pra mim, tá vendo?” Marisa comenta enquanto nos mostra que, para que sua tenda não balance, ela costuma amarrá-la num toco de árvore. É realmente mágico como tudo se encaixa. 

 

A mesma tenda desmontável nos protege da garoa fina daquela segunda-feira. Agora, já estamos no ponto de venda Marisa. Ela monta seu espaço com cuidado. Ao lado do carrinho vitrinado, encosta a mesa de plástico que, por sua vez, é milimetricamente organizada e decorada. Às 05h da manhã, tudo já está em seu devido lugar. 

 

O dia ainda não amanheceu, mas já começou. Aos poucos, a cidade de Taboão da Serra começa a se movimentar. Jovens de terninho indo em direção ao metrô, ciclistas, mães indo levar seus filhos à escola. E há uma coisa em comum entre todas as pessoas que passam na frente da barraca de Marisa: todos a desejam um bom dia. 

 

Mas, talvez, a interação mais marcante que a Marisa teve naquele dia tenha sido com o perueiro responsável por levar seu filho à escola. Isso porque foi ele quem passou avisando que o menino não apareceu para ir à aula. 

 

Ela começa então a desabafar sobre os desafios de ter um filho adolescente: fica demais no celular, dorme muito tarde, quer faltar aula. Mas não demora muito para a conversa mudar de tom e Marisa começar a focar nos aspectos positivos do filho. Ela também fala sobre o orgulho que sente do filho mais velho, Victor, que se formou em enfermagem e já saiu de casa. 

 

Ao contar do casamento de Victor, Marisa se emociona. “Eles tocaram uma música do Emicida, linda, eu não posso falar disso, não posso, vou começar a chorar”, dizia ela, limpando os olhos, já encharcados. 

 

Orgulhosa, ela começa a nos mostrar algumas fotos pelo celular.  E, então, enquanto o dia amanhece, nós estamos aninhados ao redor de Marisa para conseguir enxergar os registros na telinha que ela segura. Enquanto passa as fotos na galeria, nos conta a história por trás de cada uma delas: o casório do filho, um trabalho na praia, um churrasco em casa, uma encomenda que fez pra uma festa. De repente, estamos dentro de seu mundo particular. Os filhos e amigos, que até então estavam no campo da imaginação, passam a ter um rosto. E a história de Marisa começa a se completar. 

 

São 07h da manhã quando desligamos o gravador de voz, guardamos o tripé e enfim, pedimos um café. Eu pego um chocolate quente e um pedaço de bolo, meus colegas escolhem lanches e sucos naturais. Ao elogiamos os alimentos, ela sorri e agradece quase timidamente. Nesse momento, eu me lembro de uma conversa que tive com ela na primeira vez que a vi. 

“Marisa, quais são as vantagens de ter uma barraca de café da manhã na rua?”, eu pergunto. E ela me responde: “olha, se você falar vantagens, vantagens, não são muitas (...) Não é uma coisa que você fala ‘Que daora!’. É cansativo, não é pra qualquer um. O meu corpo dói muito,  não me dá tanta renda extra assim. Acho que a minha vantagem é, tipo, quando eu faço a minha torta e a pessoa come e fala ‘que torta gostosa’ ‘que lanche gostoso’ ‘que bolo bom’, essa é a minha satisfação”, Marisa me responde. 

 

 

 

 

Eu, de imediato, questiono: então, você faz por amor? 

 

Ela direciona o olhar pra mim, pensa um pouco, depois olha para o alto e sorri como se tivesse acabado de achar a definição perfeita para a sua relação com o ato de cozinhar.

 

“É, é por amor, sim.”

O PRIMEIRO CONTATO

MADRUGADA DE DOMINGO
(DATA DA ENTREVISTA)

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TEXTO POR
IZABELA OLIVEIRA

 


 

Âncora 4

O QUE HÁ POR TRÁS

Foi no hábito mais banal do meu dia a dia, ocupando a minha mente com as redes sociais que me deparei com os vídeos de uma jovem mulher que acorda de madrugada para vender café da manhã no CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). 

Nos vídeos, podemos acompanhar sua rotina: desde o despertar, a preparação dos alimentos e do café até a jornada para o local de vendas, em frente à maior distribuidora de produtos hortícolas do estado. Esses produtos são a fonte de renda de muitos trabalhadores – seu principal público.

Quando a vi pela primeira vez, lembrei dos muitos vendedores similares na região em que eu  trabalhava, no centro, e percebi que nunca tinha parado para refletir sobre a rotina e o esforço dessas pessoas, que ocupam a manhã de muitos trabalhadores da grande São Paulo. 

 

 

Sabe, no final de uma semana cansativa de trabalho, é difícil ignorar o peso das nossas escolhas. Digo "escolhas" porque, no fim das contas, é disso que o trabalho parece se tratar. Por que o mundo, por si só, parece ignorar completamente tudo que há por trás de cada uma das nossas decisões.

 

Na simplicidade do cotidiano, temos um vislumbre real e arrebatador da escolha do outro – no hábito universal de parar e tomar o café da manhã. Seguindo a lógica das escolhas, a pessoa que te vende escolheu estar ali, assim como você escolheu tomar o café que ela serve: quente, amargo e apressado. 

 

Numa interação rápida, você e o vendedor, não têm tempo e nem vontade de entender o que faz cada um de vocês estar ali - ele, vender; você, comprar -, mas isso não anula a existência dos motivos. Pensando nisso, foi que perguntamos: afinal, o que há por trás dessas barracas de café?

A verdade é que, na pressa do dia a dia, esbarrar com um desses vendedores na rua, faz você se lembrar, por acaso, que é um ser humano e precisa tomar um café para despertar. Estamos sempre com tanta pressa que nem notamos as pessoas ao nosso redor, não percebemos a importância delas e do que fazem.

Em uma conversa com o economista Miguel Huertas Neto, nos foi apresentada uma definição, até então desconhecida, para essa parcela de pessoas que sobrevivem com o trabalho informal. "O professor Márcio Pochmann, que hoje é presidente do IBGE, os chama de "massa sobrante" do país, a qual não tem outra opção, né? Mas isso é um sinal de que a estrutura econômica do país faz mal."

 

O termo me remete, a princípio, a coisas esquecidas e sem importância. Coisas que não valem a pena serem lembradas e muito menos ter alguma preocupação. A sobra. O que você faz com a sobra de algo? Descarta. E, camada por camada, entendemos que, a informalidade, apesar de digna, não vale de nada para grandes decisores do nosso país.

 

Buscando trazer sentido para esse público e tentar, da nossa maneira, dar outro significado ao grupo de pessoas que encontram a sua fonte de renda através do café, fomos atrás de pessoas que pudessem contar sobre essa rotina. Nessa busca, encontramos Marisa, Jair, Júlio e Edinho.

 

Assim como eles, todos temos fraquezas, medos, alegrias, angústias e qualquer sentimento realmente humano que possa existir. Mas, acredito que o meio transforma como esses sentimentos se manifestam – para eles: a rua, a madrugada, o perigo, o escuro, o desconhecido.
 

Partindo de um ponto de vista individual, eu, trabalhando em um escritório, com ar-condicionado, horário comercial e dias úteis, não imagino, nem fisicamente, nem emocionalmente, como deva ser acordar às 03h00 ou até antes, para me preparar, preparar o café, preparar a comida e sair, ainda no escuro, para um ponto de venda no centro e lidar com todo o tipo de público.

 

“…tem a rotina de eu ir lá, 3h30 acordar de manhã, com muita força e coragem, colocar água pro café e fazer o café, café com leite, o leite que eu faço separado só pra dar sabor na hora com o toddy, achocolatado e assim vai indo.”. Marisa Luana, nos contou a sua rotina, ainda em casa, antes de ir para a sua jornada de vendas. Eu tive a certeza que o sono, cansaço e a esperança eram os sentimentos que se manifestam na vendedora diariamente.

 

"Mas o grande lance que também tem hora que você tem que ser mãe, você tem que cuidar, você tem que ver o que tá acontecendo e fazer o alimento também da casa.”, E também cuidar de geral... ser várias, isso é ser várias, né?", diz Marisa, ficando implícito, na voz, sua tenacidade diante de uma vida com duas vezes mais obstáculos.

 

Quando você para em uma dessas barracas, não passa pela sua cabeça que a pessoa na sua frente já deu sentido aquele momento um dia antes, ao preparar os alimentos, horas antes, ao fazer o café para o servir quente na manhã antes do horário comercial começar.

 

Enquanto ainda estamos longe de acordar para começarmos as nossas rotinas individuais, quando levantar cedo será uma breve tortura, eles já estão postos preparando o que mais tarde tornará o café da manhã que você, eventualmente, poderá tomar. 

 

"Ah, falar para você que eu me acostumei, mentira.  Mas, tem que acordar. É ruim acordar de madrugada, mas acorda.", Jair, 32, comenta que ainda não se acostumou com o hábito de despertar antes do mundo, mas sabe que é o “madrugar” que o ajuda a pagar suas contas e manter a sua renda estável no final do mês.

 

Todos falaram do processo de preparo dos alimentos e do café, o quanto tudo tem que estar fresco, limpo e organizado, desde os bolos até o café. O cuidado para com pessoas desconhecidas é um retrato de gentileza e respeito – é o que dizem, a comida é o que une as pessoas – independente de sua posição.

 

O que há por trás dessas barracas são pessoas com esperança, pessoas que um dia já quiseram ter uma profissão e ter a oportunidade de trabalhar nela. São pessoas com almejo de mudar de vida, com o desejo de ganhar dinheiro e ter uma fonte de renda que não dependa de jornadas cansativas.

 

"A rotina de São Paulo é só trabalho, cama e dormir, entendeu? Você tem que trabalhar hoje, chegar em casa, já descansar pra vir amanhã." - Edinho.

 

"Primeiramente você sente muita dor no corpo, né? Esse já começa por aí. Aquele sono, terrível, já é mais um desafio." - Marisa.

 

Querem ser vistos, ter melhores chances profissionais, e com isso, seus direitos, a proteção e uma qualidade de vida melhor para si e sua família. Sair da informalidade.

 

“Qualquer direito trabalhista também não abrange essa relação, estamos falando de uma população totalmente desprotegida. É a que trabalha ali para sobreviver e não tem uma perspectiva de mais longo prazo e não tem nenhuma proteção.”, conclui o sociólogo e antropólogo Admar Mendes.

 

Os vídeos da jovem moça invadiram a tela do meu celular em um dia aleatório e acabaram me revelando vidas tão próximas, mas ao mesmo tempo, muito distantes. Aquele ritual matutino compartilhado nos levou a conhecer a realidade dos vendedores de café.

 

E, no final, mais do qualquer coisa, me fez chegar à conclusão de que as ‘massas sobrantes’, assim como todos nós, também têm uma história. Histórias essas que estão desenhadas nas entrelinhas da cidade de São Paulo.

TEXTO POR
NATHALIA BRUSCAIN

GABRIELLA GONÇALVES


 

Âncora 5

O TRABALHO INFORMAL E A CIDADE DE SÃO PAULO

Na imensidão de concreto e aço que é São Paulo, o coração econômico do Brasil, pulsa uma cidade de contrastes. Reconhecida como o centro financeiro do país, lar da maior bolsa de valores da América Latina e sede de inúmeras empresas nacionais e internacionais, São Paulo é uma metrópole de oportunidades e desafios.

 

Com mais de 12 milhões de habitantes, São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil e uma das maiores do mundo. Sua diversidade é evidente nos setores industriais, comerciais, de serviços, tecnologia e cultura. A promessa de experiências únicas e a possibilidade de construir uma vida digna de filme atraem muitos sonhadores para suas ruas movimentadas. No entanto, a realidade muitas vezes não corresponde ao sonho.

 

Para muitos, migrar para São Paulo foi um divisor de águas, um passo crucial para a construção de suas carreiras. No entanto, para a grande maioria, o sonho se transformou em pesadelo. Apesar de ser um polo econômico, São Paulo não gera empregos suficientes para absorver toda a mão de obra disponível. Até fevereiro de 2024, a taxa de profissionais informais no Brasil era de 38,7%, representando cerca de 20 milhões de pessoas.

 

Enquanto os trabalhadores formais têm carteira assinada e benefícios como vale-transporte, alimentação e plano de saúde, os ambulantes não têm essas proteções. A venda de café da manhã não é suficiente para cobrir todas as despesas, e no final, a conta não fecha.

 

O trabalhador informal enfrenta um sistema que não lhe oferece suporte ou segurança, mas ele continua a lutar, dia após dia, por uma vida melhor.

 

A informalidade abrange empregados no setor privado sem carteira assinada, empregados domésticos sem carteira, empregadores sem registro de CNPJ, trabalhadores por conta própria sem CNPJ e trabalhadores familiares auxiliares. Em São Paulo, a cultura de alta produtividade e dedicação ao trabalho é palpável. Frases como “A cidade que não dorme” refletem essa mentalidade, em que apenas o trabalho árduo parece garantir o sucesso. 

 

Mas, como explicar essa mentalidade para quem acorda às 3h da manhã, atravessa a cidade para vender café da manhã nas ruas, e, mesmo com dois empregos, mal consegue sobreviver? A vida de muitos ambulantes é uma luta constante, uma batalha diária para garantir o sustento de suas famílias.

 

Para Marisa, vender café da manhã é uma renda extra. Para Edinho, é a única fonte de renda, uma ocupação que consome toda sua existência. Desde 1997, ele e sua esposa enfrentam os desafios das ruas paulistanas. Começaram na Avenida Faria Lima, mas hoje se dividem em dois pontos da Avenida Paulista. Residentes de Itaquaquecetuba, o casal segue uma rotina exaustiva: madrugam às 2h20, preparam os alimentos e saem de casa às 3h50.

 

— Você vem de carro?

 

— Não, venho de ônibus.

 

— Vem de ônibus com tudo?

 

— Sim, com um carrinho e minha esposa vem com outro e fica na Consolação.

 

Sem horários fixos, é difícil vender tudo. Às vezes, conseguem ficar até as 9h, mas geralmente, por volta de 10 para as 8h, os policiais já estão os expulsando.

 

Conhecemos Edinho no Dia do Trabalho, às 6h30 da manhã. Enquanto muitos aproveitavam o feriado, ele estava lá, com sua barraca montada próximo à estação de metrô Trianon-Masp.

 

O feriado de primeiro de maio, considerado Dia Mundial do Trabalhador, foi celebrado pela primeira vez no final do século XIX, em 1886, com movimentos trabalhistas nos Estados Unidos, que exigiam melhorias nos ambientes de trabalho e uma carga horária reduzida para oito horas diárias. No Brasil, o feriado foi considerado a partir do ano 1910, sendo atualmente feriado nacional. 

 

Coincidência ou não, no dia 1° de Maio de 2024, conversamos com os vendedores ambulantes de café da manhã da Avenida Paulista. Sendo considerado feriado nacional, um dia exclusivo para o descanso do trabalhador, por que essas pessoas estavam nas ruas, antes do amanhecer, exercendo sua profissão? A resposta é simples: se não trabalham, não recebem, se não recebem, não conseguem sustentar suas famílias. 

 

O trabalho informal na cidade de São Paulo é visível em cada grande avenida, ponto de ônibus, estações de metrô e porta de grandes empresas. Seria o crescimento de serviços informais uma situação positiva para os que já trabalham como ambulantes, ou o resultado claro da desigualdade social que atinge a capital e a impossibilidade de emprego justo para a população.

 

Durante nossa entrevista com Edinho, testemunhamos uma cena intrigante. Um rapaz surgiu na ponta da escada rolante, vindo da estação. Conforme se aproximava da barraca, Edinho prontamente separou um café e um pedaço de bolo. Sem trocar uma palavra sequer, ele já sabia exatamente o que o rapaz queria - afinal, era um cliente recorrente.
 

Os clientes dos ambulantes são, em sua maioria, pessoas de baixa renda, que também vivem nas zonas periféricas e distantes do centro. Esses clientes enfrentam um deslocamento desgastante e humilhante, acordando cedo e percorrendo longas distâncias em transporte público lotado.

 

Optar por consumir os alimentos dos ambulantes é uma escolha econômica e prática. Os preços são mais acessíveis do que os das lanchonetes e cafeterias, e o atendimento é mais rápido. Além disso, há uma conexão entre cliente e vendedor, uma simpatia e acolhimento que faz a diferença.

 

Para Edinho, a venda de café da manhã é uma breve solução para um sonho incerto. Seu objetivo é voltar para sua cidade natal. Ele, sua esposa e filha trabalham arduamente para alcançar esse objetivo. No entanto, o trabalho de vendedor ambulante é precário, sem benefícios ou segurança.

 

Essa fonte de renda, frequentemente desconsiderada como trabalho, é muitas vezes a única opção que resta. Para muitos, vender nas ruas é um ato de resistência e sobrevivência, uma maneira de sustentar a família em meio à falta de oportunidades formais.

 

— Você quer continuar?

 

— Eu, não. Estou aqui apenas enquanto procuro outro trabalho.

 

— Por quê?

 

— Venho de tão longe, não vale a pena ficar até às 8h. Sobra muita coisa, entende? Eu só queria que os polícias tivessem um pouco de consciência. Somos pais de família. Não saímos de casa para ficar olhando para a cara dos outros aqui. Saímos para trabalhar. Eles não entendem isso.

 

Durante o processo de desenvolvimento dessa reportagem, tentamos inúmeras vezes contato com algum órgão público, de preferência alguém de dentro da prefeitura. No início conseguimos contato com algumas pessoas que nos ajudaram a chegar em quem de fato cuida do programa de legalização de ambulantes, o “Tô legal”. Mas parece que quanto mais próximos de conseguir alguma informação chegamos, mais difícil e demorado era o processo. Até que demos de cara com o silêncio. 

 

As informações que conseguimos são antigas, a mais recente não é atualizada desde 2020, o que demonstra ainda mais o descaso com essa parcela da população, ninguém luta por melhores condições de trabalho para eles. O processo para conseguir o documento no "Tô Legal!" é simples. A pessoa que deseja obter a licença, precisa acessar o site do governo, onde encontrará informações como um mapa para ver a disponibilidade do local de interesse e qual a documentação necessária. Depois, é só solicitar a autorização para trabalhar no ponto escolhido pelo período desejado – seja um dia, uma semana ou um mês, por exemplo.

 

Porém, essa autorização tem validade máxima de 90 dias no mesmo local e só é emitida após o pagamento do Documento de Arrecadação do Município (DAMSP) na rede bancária, com um valor mínimo de R$10,72 por dia. O que torna o processo inviável para a maior parte desses vendedores de café, que mal conseguem se sustentar com o que ganham, quanto mais pagar para trabalhar. Além disso, o valor da taxa varia conforme o preço do metro quadrado da região escolhida e a mesma pessoa não pode emitir duas autorizações para locais diferentes no mesmo dia e horário.

 

Isso mostra que a cidade de São Paulo te engole enquanto te multa e, nessas circunstância, parece impossível ter algum tipo de perspectiva. “Eu me arrependo muito de ter vindo para cá, não pelo o que consegui aqui, mas se eu tivesse ficado na minha cidade, teria sido um homem muito mais feliz.

 

No início desta reportagem, contamos a história de Marisa que vende café nas ruas, principalmente, pelo prazer de cozinhar. Mas, o que precisamos lembrar é que esse é um caso muito raro. A grande maioria dos entrevistados, não gosta  do que faz. Eles estão ali porque precisam estar, porque não encontram outra alternativa, porque mesmo sem carteira de trabalho assinada, as contas nunca param de chegar. 

 

 

 

 

Antes de iniciar essa reportagem, nunca tínhamos reparado no enorme número de vendedores de café nas ruas. Depois, era tudo que víamos. Eles estão nas estações de metrô, nas paradas de ônibus e nas calçadas mais movimentadas do centro de São Paulo, aos montes. Os números são incontáveis e imprecisos. 

 

O que fica claro é que esse é o tipo de trabalho que a gente vê, mas não enxerga. E o que esperamos com essa reportagem, no fim, é contribuir de alguma forma para que esses trabalhadores sejam vistos. E para que essas histórias comecem a ser contadas. 

2024 | SÃO PAULO | UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

REPORTAGEM POR

ALESSANDRA SANTOS
CAMILLA MENEZES
GABRIELLA GONÇALVES
IGOR TOMAZ
IZABELA OLIVEIRA
NATHALIA BRUSCAIN

MÍDIA

CAMILLA MENEZES
IGOR TOMAZ

EDIÇÃO

GABRIELLA GONÇALVES
IZABELA OLIVEIRA

Âncora 6

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